Bom Conselho une esporte e combate ao racismo na Copa Rural
2025-03-21Evento promoveu reflexões dentro e fora de campo no combate à discriminação racial
“Sinto esse encorajamento
A vontade de enfrentar
De mudar neste momento
Tudo aquilo que é racismo
E plantar conhecimento.”
O trecho acima, retirado do livro Heroínas Negras Brasileiras: em 15 cordéis (2020), de Jarid Arraes, resgata histórias de mulheres até então esquecidas e apagadas. Entre elas, está Aqualtune, princesa e guerreira africana que lutou para proteger seu reino no Congo.
Essa mesma coragem resiste no cotidiano da população negra, que enfrenta o racismo e, muitas vezes, precisa desviar-se de atitudes violentas e discriminatórias. Com o objetivo de fortalecer essa luta em todas as esferas sociais, as diretorias de Igualdade Racial e de Esportes da Prefeitura Municipal de Bom Conselho estiveram presentes na Copa Rural, realizada no último domingo (16).
Por meio de palestras, informações sobre as implicações legais do racismo e orientações sobre como reagir à violência, o evento tornou-se também um espaço de conscientização. A ação visa ir além das partidas, utilizando o esporte como ferramenta de transformação social, conforme explica Adeildo Santos, diretor de Igualdade Racial. “A ideia era passar a mensagem de que o futebol é arte e alegria. E, ao mesmo tempo, ressaltar que o racismo precisa ser desconstruído na sociedade. Com isso, transformamos esse ambiente em algo mais saudável, onde todos podem se divertir e com segurança para o juiz, jogadores e público”, enfatiza Adeildo Santos.
A iniciativa foi reforçada pela data que demarca-se hoje: o Dia Internacional de Luta pela Eliminação da Discriminação Racial, instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU) em memória ao massacre de Shapeville, em Johanesburg, na África do Sul, ocorrido em 1960. Em manifestação pacífica, mais de 20 mil pessoas protestavam contra a lei que limitava os lugares por onde as pessoas negras podiam circular. Ainda assim, tropas do exército atiraram contra a multidão, ferindo e assassinando vítimas.
No Brasil, a data foi oficializada através da Lei 14.519/23. Atualmente, o racismo é considerado crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão. No entanto, embora o país tenha avançado na legislação, ainda é necessário implementar políticas mais eficazes de inclusão e garantir o cumprimento das leis para combater essa prática.
RACISMO CRESCE NO FUTEBOL BRASILEIRO
Diante do aumento de quase 40% nos casos de racismo no futebol brasileiro, segundo relatório anual do Observatório da Discriminação Racial no Futebol, ações como estas, que unem tradicionalismo e conhecimento, são essenciais para tornar o esporte um lugar seguro para todos.
É o que explica Zé Bia, integrante da Diretoria de Esportes de Bom Conselho. “A Copa Rural é uma tradição na nossa terra. Os atletas sonham em disputar. E neste ano, estivemos em uma competição diferente, em parceria com a Diretoria de Igualdade Racial”, afirma. “Ainda existe muito racismo no futebol e a ação serviu de alerta para torcedores e jogadores. Todos abraçaram a ideia. É muito importante dizermos não ao racismo”, finaliza.
Entende-se que essa luta deve ser diária e constante, mas em dias como este, a recordação se torna ainda mais presente e urgente, quase tão palpável quanto a bola rolando no campo.
Os jogos da Copa Rural seguem nos próximos finais de semana, dando continuidade a essa campanha. Fora das quatro linhas, a população também é convidada a refletir sobre esta questão e tornar-se um agente antirracista. “Nós vamos trabalhar para além do esporte, seja na educação ou na saúde, para que possamos reeducar a nossa sociedade”, ressalta Adeildo Santos, diretor de Igualdade Racial do município.
O esporte, assim como todos os espaços sociais, precisa ser um ambiente de respeito e proteção. Por isso, negritamos: com racismo, não tem jogo!
Confira abaixo a galeria de fotos das partidas realizadas: